Transplante Hepático

Transplante Hepático. Por que esta é uma grande conquista para a Saúde na região?

O fígado é o maior órgão sólido do corpo humano e pesa entre 1200 e 1500g. Entretanto, diversas doenças podem comprometer de modo significativo as funções do fígado e em determinadas situações, somente o transplante hepático é capaz de manter o paciente vivo. Para a realização do transplante de fígado é necessário compatibilidade do tipo sanguíneo (sistema ABO) o que é mais simples quando comparado, por exemplo, ao transplante de rim. Devido a sua alta capacidade de regeneração, a doação de um órgão pode beneficiar mais de um receptor e quando realizado intervivos somente parte do órgão do doador pode ser suficiente para o receptor. 

O ato cirúrgico, em que se troca o fígado comprometido do receptor pelo fígado saudável do doador (cadáver ou vivo), é apenas um dos momentos do longo processo até a sua chegada. Por conta da discrepância entre o número de pessoas que necessitam do transplante e o número de órgãos doados (via morte encefálica) há um tempo longo de espera em fila e, portanto, um dos grandes desafios é levar o paciente vivo até o momento do transplante, garantindo que o procedimento o devolva mais qualidade de vida.

Os doentes que necessitam do transplante são graves, com diversas complicações decorrentes do mau funcionamento do fígado que precisam estar razoavelmente equilibradas quando a doação acontece. Após a realização do tão esperado transplante, há um período imediato onde o paciente, submetido à cirurgia de grande porte, tem que ter seus diversos sistemas equilibrados de forma adequada para permitir que o órgão transplantado retome o seu funcionamento de modo pleno. Em média, 7 a 10 dias após a realização do transplante, o paciente recebe alta e com medicamentos que diminuem a ação do sistema imunológico aceitam este órgão “diferente” como sendo seu. 

Por isso, há tanto o que comemorar quando mais um centro, fora das capitais, é credenciado para realização do transplante hepático. Somente 60 hospitais no país (menos de 1% de todos os hospitais brasileiros) são credenciados pelo Ministério da Saúde para realização do procedimento, sendo, o Monte Sinai, o sexto, no estado de Minas Gerais capacitado. O credenciamento exige alto nível de qualificação da equipe cirúrgica, estrutura física arrojada e moderna além de equipe multidisciplinar com diversos profissionais de comprovada competência. Felizmente, todo o processo é financiado pelo SUS. 

Grupo do Fígado e Centro de Transplante Hepático do Hospital Monte Sinai

Formar parcerias. Esta foi a primeira constatação dos profissionais do Monte Sinai quando a notícia do credenciamento para Transplante de Fígado chegou em 2016. Depois de um longo processo de comprovação da capacidade do hospital e uma maratona burocrática, iniciada (não pela primeira vez) em 2009 para credenciar o Hospital, começou outro processo complicado: definir os fluxos de seleção, recepção e cuidados que garantam o sucesso do transplante na instituição. 

O Grupo de Fígado do Monte Sinai foi criado durante o II Encontro Minas-Rio de Hepatologia, em setembro de 2016, e a partir de então passou a reunir cirurgiões do aparelho digestivo, hepatologistas, hematologistas, anestesiologistas, enfermeiros e especialistas em endoscopia digestiva, patologia clínica e radiologia intervencionista entre outros profissionais. A equipe vem se reunindo para estabelecer um fluxo ideal desde o momento da captação, seleção dos candidatos, realização do transplante e seguimento após sua realização. Uma importante parceria foi formada com o Hospital Universitário da UFJF, cujo Centro de Referência em Hepatologia em funcionamento desde 2004, é o segundo maior centro do estado de Minas Gerais, que tem 3.200 pacientes registrados e atende cerca de 300 pacientes/mês. Outra importante parceria foi estabelecida com os gestores municipais que deram apoio fundamental para a concretização do projeto. 

Parceria com o Centro de Referência do HU (UFJF)

Anualmente, cerca de 3.000 a 3.500 consultas especializadas são feitas por uma equipe de Hepatologistas no Centro de Referência do HU. Entre os mais de 3 mil pacientes cadastrados, as doenças mais prevalentes são a hepatite C crônica, a doença hepática alcoólica e a doença hepática gordurosa não alcoólica e a hepatite B crônica que representam, em todo o mundo, as principais indicações de transplante hepático.  Em tese, 20% a 30% destes pacientes têm ou evoluirão para cirrose hepática , tornando-se candidatos em potencial ao transplante. Após uma pré-seleção no Centro de Referência em Hepatologia do HU-UFJF o paciente é encaminhado para o Centro de Fígado do Hospital Monte Sinai, que já está em funcionamento, no Centro Médico Monte Sinai, onde a equipe analisa e inscreve o paciente em lista, momento a partir do qual passa a concorrer por um órgão. O critério que define a ordem de quem recebe o órgão entre os pacientes ativos em lista é a gravidade da doença hepática, avaliada pelo escore MELD e pelo tempo em fila. Quanto maior a pontuação, maior a gravidade da doença e, portanto, mais rápido o paciente receberá o órgão. Desde o status de ativo em lista até o recebimento do órgão todos os esforços da equipe são para manter o paciente vivo em condições clínicas mínimas para a realização do transplante. 

Luta pela captação é uma constante

Com todo o processo completo, o transplante realizado e após a alta hospitalar, o ganho de qualidade de vida é um dos maiores entre todos os pacientes transplantados. De um modo geral, a sobrevida média é de 80% no primeiro ano e 75%, em 5 anos. Entretanto, infelizmente, a escassez de órgãos consequente ao baixo número de doadores resulta na morte de uma proporção significativa de pacientes à espera do transplante.
As comissões de captação (CIHDOTT – Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos) são fundamentais na identificação do potencial doador. A equipe do Monte Sinai é ativa e tem trabalhado com intensidade. Porém, enfrenta uma dificuldade, que se reflete em todo o país, como publicado no último relatório do Registro Brasileiro de Transplantes (veículo oficial da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos – ABNT) que, embora tenha se registrado taxas mais promissoras de doação no primeiro trimestre de 2017 quando comparado ao mesmo período de 2016, há muito o que evoluir. Uma vez que a lei de doação de órgãos no país prevê que é necessário a autorização da família para a efetiva captação dos órgãos, boa parte delas ainda recusa a doação após a constatação de morte encefálica que é feita por dois médicos neurologistas, não vinculados às equipes de transplante. Em 2016, a taxa de doadores efetivos cresceu 3,5%, atingindo 14,6 pmp (por milhão de população), mas esse acréscimo foi menor que o esperado. A taxa de notificação de potenciais doadores vem crescendo lentamente e está próxima a 50 pmp, mas a taxa de não autorização familiar mantém-se muito elevada (43%).

Equipe multi-especialidade capacitada

A cirurgia é de grande porte, por isso a importância da experiência da equipe e da estrutura do hospital é de suma importância para a obtenção de bons resultados. A equipe do Monte Sinai é composta pelos cirurgiões Cleber Soares, Carlos Augusto Gomes e Rodrigo Peixoto – todos com formação na área no Brasil e no exterior -, além de Igor e Victor Cangussu, também especialistas em cirurgia do aparelho digestivo. O credenciamento ainda nomeou anestesiologistas com formação específica da equipe do Hospital, Mariana Moraes Pereira das Neves e José Mariano Soares de Moraes. Nos primeiros transplantes, a equipe contará com “proctors” do Rio de Janeiro, sob coordenação do experiente cirurgião Lucas Demétrio. Do grupo de especialistas que formam o Centro de Transplante de Fígado do Monte Sinai ainda fazem parte os hepatologistas, Aécio Meirelles, Fábio Pace, Juliano Machado de Oliveira e Tarsila Campanha da Rocha Ribeiro. Eles contam com o apoio da equipe de patologistas coordenada por Emílio Augusto Campos Pereira de Assis, do hematologista Angelo Atalla e do radiologista intervencionista Rafael Gustavo Gomide Alcântara, além dos endoscopistas Lincoln Ferreira e Laura Cotta Ornelas. Além disso, uma equipe de enfermagem e outros profissionais compõem a equipe e desempenham papel importante tanto no pré quanto no pós transplante. 

 Estrutura de alto padrão é uma exigência do Ministério do Trabalho


Salas de consulta no oitavo andar da torre Oeste do Centro Médico Monte Sinai estão prontas para receber os pacientes para avaliação pré-transplante e para o seguimento no pós transplante. O Centro Cirúrgico do Monte Sinai sempre esteve apto ao procedimento, mas este ano ainda ganha mais cinco salas, chamadas inteligentes – com equipamentos preparados para receber comandos por voz, disponibilidade de laudos, imagens e possibilidade de pareceres por vídeo em tempo real – ampliando a capacidade da estrutura para 13 salas, assim que todas forem completamente reformadas. 
A unidade de terapia intensiva do Hospital está entre as mais modernas do país, estando apta a receber estes pacientes imediatamente após a realização do transplante hepático. Após estabilização do paciente na UTI, o mesmo será transferido para o Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO) , que tem posto de enfermagem independente, apartamentos isolados com filtro Hepa e estrutura de unidade semi-intensiva.