Arthur, recuperação surpreendente após queda de 7 m de altura e TCE grave

Arthur, de quatro anos e meio, é um garoto superativo que, praticamente, nasceu de novo depois de sofrer um trauma cranioencefálico (TCE) grave em consequência da queda do terraço de sua casa, em Juiz de Fora. Mas ele surpreendeu a todos com a rapidez de sua recuperação e foi um caso raro, porém, mais um de sucesso na história da UTI Neonatal e Pediátrica do Hospital Monte Sinai.

O neonatologista Vitor Alvim conta que o menino foi diagnosticado com uma fratura de base de crânio grave e trauma periorbitário, sendo necessário usar muitos recursos para preservação do cérebro durante o tratamento clínico intensivo, já que a abordagem cirúrgica foi descartada pelo neurocirurgião desde a primeira tomografia, bem como trauma cervical. O menino já chegou ao hospital numa escala de coma (da tabela de Glasgow) nível 6 e o médico ressalta que o primeiro atendimento feito pela equipe do SAMU foi fundamental para o sucesso do caso. Além de rapidamente socorrido, ele foi entubado antes de chegar ao Monte Sinai e no deslocamento já foram indicados parâmetros determinantes para montar a estrutura mais adequada para recepção da criança na UTI Pediátrica. Além do trauma, ele teve uma fratura no braço, mas que pôde receber atenção posteriormente. As primeiras 48h foram de instabilidade e difícil prognóstico sobre as chances de Arthur.

O desespero da família por respostas a levaram a uma expectativa de até 60 dias de internação em UTI, com base em pesquisas de internet para referência deste tipo de trauma. Mas, em apenas sete dias, Arthur saiu do coma e em dez, já estava se recuperando no quarto. Sem se arriscar a previsões na fase mais crítica, a equipe também comemorou a rápida resposta do menino ao tratamento. “Apesar do TCE ser a principal causa de óbito fora do período neonatal – entre 1 mês e 18 anos –, o TCE grave é pouco comum, menos de 5% dos casos de internação no Brasil, e mais raro ainda no Monte Sinai, não nos permitindo nem comparativos estatísticos”, destaca Vitor Alvim.

“Ter a estrutura adequada foi fundamental para tratá-lo, pois o cenário já era gravíssimo desde a queda”, acrescenta  o neonatologista. Para estabilizar o quadro, foram usados medidores de pressão intracraniana – instalada pelo neurocirurgião -, de pressão arterial invasiva, eletroencefalográfico para acompanhar grau de sedação, acesso venoso central , além de um capnográfo – detector do nível de gás carbônico pelo tubo endotraquial. Também foram necessários anticonvulsivantes e bloqueio neuromuscular para neuroproteção. Ele chegou a ter um choque neurogênico com alteração hemodinâmica e os aparelhos e condutas foram fundamentais para equilibrar a pressão arterial com a perfusão cerebral que permitiu tirá-lo do coma. Em uma semana, Arthur deixou a sedação profunda e sua evolução foi excelente. Com alta hospitalar em 23 dias.

Uma legião de anjos

“Não foram médicos e enfermeiros que cuidaram do Arthur, foi uma legião de anjos”, se emociona Bruna Paiva, mãe de Arthur, ao ressaltar o cuidado e o carinho com que toda a equipe da UTI e de outros setores do Monte Sinai acolheram o menino e a família desde o primeiro momento. A mãe conta que ele brincava de carrinho com o irmão menor enquanto ela estendia roupa no terraço do prédio onde moram. Em alguns segundos em que tirou os olhos dos meninos, só deu tempo de ouvir o barulho de Arthur batendo contra o cimento sete metros abaixo e de um vizinho gritando, conta ela. “O pedido de socorro e a chegada do SAMU foram muito rápidos e, apesar da primeira ambulância deslocada ser a básica, na comunicação com a base, já foi orientado o deslocamento até encontrar com a unidade avançada para atendimento por um médico. Mais anjos no caminho do Arthur”, destaca Bruna.

O tio, Marcelo Paiva, que é policial e acompanhou o resgate, foi uma presença exigida por Arthur na UTI logo que ele recuperou a consciência. Arthur chegou a morar com ele por seis meses e é Marcelo é considerado pela família um segundo pai para o pequeno. O policial também fez questão de ressaltar o resultado surpreendente e todo o processo que permitiu salvar a vida do garoto. “Muito disso é da força dele, muito de Deus e muito da competência da equipe que deu um tratamento espetacular desde o início, além do atendimento pelo Samu, que soube o que fazer e para onde o encaminhar”.

Arthur ”ligado em 440 volts” segundo a mãe, passa o Dia dos Pais em casa, depois do enorme susto que deu em todos. E o mais importante, com quadro clínico sem indicação de sequelas. A memória e a evolução escolar só poderão ser avaliadas em longo prazo, mas ele teve alta com exame neurológico muito bom, ressonância com boa avaliação do tecido encefálico, parte motora e cognitiva normais. E ao deixar o Hospital, no dia 10 de agosto, Arthur já demonstrava que não perdeu seu ritmo: a foto de despedida com a equipe foi agitada!

Já a mãe, faz questão de frisar que nunca terá palavras para agradecer a todos (Dr. Abad, dr. Vitor, dr. Isaac e dr. Bernardo, todas as meninas da UTI, a Suely da Recepção… tenta enumerar). “Eu, que não podia ter filhos por ser diagnosticada com ‘útero infantil’ ganhei a chance de ser uma mãe melhor. Graças a todos estes anjos, posso levar meu filho – que, junto com o menor são os bens mais preciosos que tenho – de volta para casa”.