CPRE inédita em Juiz de Fora une equipes de Endoscopia e Cirurgia do Aparelho Digestivo do Monte Sinai para tratar cálculo biliar em paciente bariátrico.

Um procedimento realizado pela primeira vez no Monte Sinai e em Juiz de Fora uniu uma equipe de endoscopia e outra de cirurgia do aparelho digestivo para tratar cálculos biliares e a vesícula. Numa atuação de rotina, o paciente precisaria tratar a doença biliar por um procedimento endoscópico de alta complexidade, chamado CPRE e ter a vesícula retirada, por vídeolaparoscopia, na sequência. Porém, por tratar-se de um paciente bariátrico pela técnica de bypass, isso mudou completamente o acesso ao órgão a ser abordado, via endoscópica, da forma protocolar.

O médico endoscopista Lincoln Ferreira, por sua experiência com o tema desenvolvido no seu pós-doutorado, em 2007, na Mayo Clinic/EUA, participou do procedimento. Ele explica que hoje, existem três técnicas para abordar os cálculos do colédoco: através do ultrassom endoscópico, através do enteroscópio ou através do estômago excluído pelo by-pass, durante a laparoscopia. As equipes do Monte Sinai optaram pela última abordagem inédita na cidade, de forma a resolver os cálculos do colédoco e da vesícula por uma única via de acesso.

Um paciente não bariátrico faria, pela via normal, uma colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) – uma técnica que utiliza simultaneamente a endoscopia digestiva e a imagem fluoroscópica para diagnosticar e tratar doenças associadas ao sistema biliopancreático. A CPRE em geral começa como uma endoscopia, entrando pela boca, para acessar o estômago e a papila duodenal maior, e então retirar os cálculos das vias biliares. Entretanto, o by-pass cria um novo caminho para o processo digestivo que garante a absorção menor na digestão para resolver o problema da obesidade, isolando a maior parte do estômago e todo o duodeno do trânsito alimentar, impedindo dessa forma, o acesso direto do duodenoscópio à papila duodenal maior.

Numa situação de by-pass, para se chegar na papila duodenal maior por via oral, seria necessário um aparelho de endoscopia muito mais longo (enteroscópio), que além de disponível em poucos serviços no Brasil, tem algumas limitações para o tratamento endoscópico dos cálculos das vias biliares. Uma segunda opção, seria a criação de uma nova ligação entre a bolsa gástrica e o estômago excluído no by-pass, utilizando para isso o ultrassom endoscópico e uma prótese especial, através da qual se passaria o duodenoscópio pela via oral. Apesar de ser uma ótima opção e o Monte Sinai ser o único hospital na região a dispor desse tipo de ultrassom,essa prótese seria temporária e exibiria que o procedimento fosse em dois tempos. Se o paciente não apresentasse cálculos na vesícula, essa teria sido a técnica utilizada. Para resolver os cálculos na vesícula biliar e no canal da bile em uma única sessão, as duas equipes optaram pela via laparoscópica.

A técnica utilizada

Utilizando o acesso da cirurgia videolaparoscópica – procedimento minimamente invasivo, que através de pequenas incisões no abdômem introduz os aparelhos e microcâmera -, foi criada a nova via de acesso do endoscópio para a CPRE. Após entrar com o duodenoscópio no estômago excluído, o aparelho rapidamente chegou no duodeno e na papila duodenal maior, sendo então possível a retirada dos cálculos pelo caminho mais curto e sem necessidade de próteses. Na sequência, a equipe de cirurgia do aparelho digestivo, formada pelos médicos Cleber Soares e Carlos Augusto Gomes, retomou a cirurgia laparoscópica para retirada da vesícula. 

Com Dr. Lincoln na equipe de Endoscopia estavam os especialistas Volner Siqueira e Luiz Felipe Caputto. A partir desta primeira experiência, eles criam um novo protocolo para casos similares e vão desenvolver a alternativa também para o uso do ultrassom endoscópico. Curiosidade: apesar dos cálculos estarem nas vias biliares, a retirada da vesícula é um procedimento padrão, pois é nela que a doença que forma os cristais se desenvolve, na maioria dos casos.