Gêmos, mães de UTI e boas histórias

Gêmos, mães de UTI e boas histórias

Todos os bebês que sobrevivem a uma internação de cuidados intensivos são pequenos grandes heróis. Pois, intubação, medicações fortes, fisioterapia especializada, nutrição enteral/parenteral, nada disso entra no planejamento de uma gestação. Um parto prematuro sempre é um susto e a UTI Neonatal do Monte Sinai já contou muitas histórias de grandes desafios vencidos por situações muito extremas. Neste Novembro Roxo, porém, vamos falar de dois partos gemelares, de dois meninos e duas meninas, recentes e sem qualquer intercorrência grave. Porém, são situações que vão se tornando frequentes – em especial porque gestação múltipla é fator de risco da reprodução assistida, cada dia mais acessível. Só que nestes dois casos, o que se destaca são tanto o “casamento perfeito” da UTI com a assistência dedicada da nova Maternidade do Monte Sinai quanto a importância do contato pele a pele que auxilia no vínculo mãe/bebê.

Os dois meninos nascidos com 26 semanas de gestação, Victor e Gustavo, continuam internados na UTI Neonatal e começaram a fazer o método Canguru, recentemente, no final do primeiro mês de vida, emocionando a mãe, Rafaela Ferreira da Costa Fonseca. Já as meninas Iara e Ayla, nasceram de parto normal e tiveram o primeiro contato com a mãe imediatamente após o nascimento. Elas já estão em casa há dois meses, mas ainda assim passaram bem mais tempo no hospital do que gostaria Daniele dos Santos Rosa, que passou pela experiência de se tornar uma “mãe de UTI”.

O acompanhamento fundamental

O neonatologista Vitor Alvim tanto participa dos cuidados na UTI dos gêmeos quanto do atendimento na sala de parto nos dois casos (em caso de gemelares, há uma equipe e equipamento designado para cada bebê, conforme recomenda o protocolo internacional e a Sociedade Brasileira de Pediatria). Ele destaca que os casos se aproximam pelos cuidados necessários a gestações múltiplas, e se afastam pelo peso e condições de nascimento de cada um. Daniele passou 45 dias internada, da 28ª à 34ª semana, com assistência obstétrica muito adequada e conseguiu evoluir com a gestação até o parto vaginal, com as meninas nascendo com boa vitalidade. A pequena Ayla só precisou de observação por cinco dias porque teve dificuldade de sugar e precisou ser acompanhada. Mas o ganho de peso ideal para a alta aconteceu ao lado da irmã no quarto, tendo alta juntas, em 19 dias.

Já a gestante Rafaela, com sangramento desde a 23ª semana, também precisou ficar internada na Maternidade, mas mesmo com repouso absoluto e todo suporte foram 16 dias apenas. Um quadro infeccioso e uma anemia levaram ao parto cesáreo precoce para garantir melhores chances aos meninos, mesmo tornando-se prematuros extremos ao nascerem com 26 semanas – Victor, com 940g e Gustavo, com 1030g. E o primeiro perdeu 20% do peso chegando a 750g. Eles nasceram em 19 de outubro, necessitaram de reanimação na sala de parto, sem ocorrências graves e agora encontram-se estáveis na UTI, em recuperação nutricional.

Mães de UTI

Primeiros filhos, sem ouvir nada da experiência de outras mulheres com UTI Neo, para Rafaela o susto começou mais cedo, e ela reafirma que pouca coisa consola uma mãe que deixa o hospital sem seus bebês nos braços, “a gente fica desamparada, chora e fica insegura”, destaca ela. Mas para ela fez toda a diferença a convivência frequente, uma equipe muito profissional, muito atenciosa.  “Desde o cuidado que recebi ainda na Maternidade, todos me passaram muita segurança, todos, das enfermeiras aos médicos são muito acolhedores”, completa. E, agora, numa fase muito feliz depois de tanta espera, ela e o marido, João Batista, dão os primeiros passos no método Canguru. Morando na Zona Norte, ela vai só numa das visitas ao hospital, mas sempre tranquila, sabendo que seus meninos estão muito bem cuidados.

“Apesar de fazermos aqui uma adaptação do modelo para o Canguru, dentro da própria UTI, a equipe incentiva inclusive a ‘paternagem’, em que o pai também faz o contato pele a pele. Os resultados são sempre muito positivos para os pais e, em especial, para a recuperação dos bebês”, destaca Dr. Vitor.

Já Daniele teve o maior tempo de convivência com a internação prévia ao parto, na Maternidade, passou por muita fisioterapia e pilates depois que uma infecção urinária precipitou as contrações uterinas com 28 semanas de gestação. A bebê que foi para a UTI também foi acompanhada durante os 45 dias de internação pré-parto, já que havia uma dificuldade de nutrição ainda no útero. Porém, mesmo preparada, mesmo com a felicidade de ter pegado as filhas ainda na sala de parto, “dá uma dor no coração ver aquele bebê ali na incubadora, a gente fica pensando no que deu de errado, angustiada. Mas não tem o que fazer, tem que aguardar, e a equipe é muito humana e acolhedora com os pais, tive toda assistência e apoio da Psicologia”. E ela ainda teve a chance de poder ficar o tempo todo no hospital. Depois da suplementação inicial necessária, podia ir à UTI amamentar a cada três horas, enquanto a outra bebê ganhava peso normalmente ainda num leito da Maternidade. E Daniele destaca que o parto normal, não foi sempre a sua primeira opção. A gestação foi caminhando, mas até na última semana seria a cesárea, devido à grande chance de ser um parto prematuro. No último ultrassom a obstetra viu que havia condições para o parto vaginal e espontaneamente Ayla e Iara nasceram, sob cuidados mais especiais no Centro Cirúrgico, mas com uma “experiência única e que recomendo a todas as gestantes a tentarem”, diz Daniele. “Foi mais fácil para elas. Se fosse cesárea eu teria mais dificuldade de ir na UTI de 3 em 3h, além disso, em 10 dias de pós-parto, eu já tinha eliminado os 16 kg ganhei na gestação. Por tudo isso, só tenho a agradecer, tanto à equipe da Maternidade quanto a da UTI. Pessoas muito humanas, todos contribuíram para eu ficar bem, internada, ficar tranquila para que elas viessem naturalmente no tempo delas”.