Henrique, o “Girassol” da UTI Neonatal, que nasceu com 585 gramas

O pequeno (muito pequeno) Henrique nasceu com apenas 585g e 29cm, de gestação de 28 semanas, e virou outra estrela entre os miniguerreiros da UTI Neonatal do Monte Sinai. Ele passou a ser conhecido como “o pequeno girassol”, por conta de uma música cantada pelos pais e adotada pela equipe de enfermagem para embalar o sono do bebê.

O nascimento precoce não foi uma surpresa completa, pois desde a 24ª semana de gestação já se detectou um problema no ritmo de crescimento do bebê. Já no ultrassom morfológico foi constatada uma diferença preocupante e a mãe, Paula Reis de Miranda, precisou de acompanhamento em clínica especializada em Belo Horizonte. Ela teve indícios de trombofilia, o que prejudicava a nutrição através da artéria uterina, o que não permitiu o desenvolvimento adequado de Henrique. Ela fez tratamento e acompanhamento rigorosos, com repouso absoluto, até se definir que o parto não deveria esperar mais.

Henrique chegou no dia 16 de janeiro e na sala de parto do Monte Sinai a equipe da UTI Neonatal já o aguardava. Com uma expectativa de 60 a 90 dias de internação para alcançar o desenvolvimento e o peso ideais para alta, Henrique precisou de um período mais longo. Ele ficou 45 dias sem ganhar massa e passou quase dois meses apenas na incubadora, quase sem contato físico, mas sempre chamou a atenção, pois apesar da expectativa de que ele não choraria na hora do parto, “ele nasceu esgoelando e ainda chora de tremer a incubadora”, conta Paula. Os pais narraram a “saga” de Henrique quando ele já estava com 115 dias de UTI, e muito perto dos dois quilos necessários, com a expectativa da alta para qualquer momento. Hoje, o “pequeno girassol” já está em casa há 15 dias, evoluindo muito bem.

Como Henrique se tornou um girassol

Mesmo podendo visitar diariamente o filho, por vezes o casal não podia tocá-lo. Então, a aproximação que escolheram para se fazerem presentes na recuperação do pequeno Henrique foi rezar e cantar. Os dois participam de um grupo de jovens da Igreja Católica, em Rio Pomba, cidade natal deles, na Zona da Mata Mineira, e o tema que passou a ser recorrente no repertório foi a “Canção do Girassol”, que fala na “busca da luz de Deus para ser feliz e nas sementes de amor e ternura que o girassol espalha”.

As enfermeiras, especialmente do turno da noite, prestaram atenção a este detalhe, descobriram um clipe da canção na internet, baixaram e colocavam para ele ouvir. E também aprenderam a cantá-la para acalmar o menino quando os pais não estavam presentes. No primeiro “mesaniversário” de Henrique elas imprimiram a foto de um girassol, coloriram e a encheram com mensagens de toda a equipe. A comemoração surpresa teve direito a “parabéns pra você” e bexigas de festa para quem estava na UTI.

Pura vocação

Paula e o pai, Ricardo Campos de Faria,destacam o diferencial de carinho e dedicação de todos os turnos de enfermagem, médicos e equipe multidisciplinar da UTI Neo, que é frequente na fala dos pais que vivem esta difícil rotina de torcer por cada grama de peso de seu filho entre os períodos de visita. “Apesar de todo o recurso técnico e tecnológico disponível, é a atenção humana, o cuidado no tratamento com o Henrique, além da acolhida que temos, o que nos garante a tranquilidade e a confiança necessárias para conseguirmos ir embora e deixar nosso filho aqui”, diz o pai. “O cuidado, o zelo fazem a diferença entre quem presta um serviço e quem está vocacionado para sua profissão”, completa ele, lembrando que além da equipe da Neo, vê este carinho presente desde a atitude do funcionário da portaria ou do estacionamento, “que não nos tratam como clientes, mostram que todos se importam, o que cria um vínculo”, completam.

A mãe vê como muito importante para o desenvolvimento do filho exceções abertas nos protocolos, quando os médicos consideram o resultado terapêutico que a presença dos pais faz. “Eu vi isso, quando tive a grata surpresa de me permitirem pegá-lo no colo antes do peso que é de praxe, no dia 8 de março. O mesmo foi feito na liberação do Método Canguru”, conta ela descrevendo os detalhes desta alegria. Quando a rotina da UTI permitiu, ela passou a ficar mais tempo, muitas vezes o dia todo, “teve dia do Henrique ganhar 90g em 24 horas, uma evolução muito boa, e num só mês ele ganhou 800g de peso”, enfatiza ela.

Ricardo lembra que a convivência com os pais dos outros bebês também dá forças para suportar esta frustrante situação de não ter seu filho na condição esperada após o nascimento de um bebê. Eles trocam informações, contam suas experiências e resultados. “Tudo aqui na UTI Neonatal é diferenciado, os profissionais, inclusive os médicos e fisioterapeutas, chegavam a fazer ‘escala de colo’ para tentar tornar a rotina menos dura para o Henrique, que, já com quatro meses de nascido, sentia muito a diferença entre a incubadora e o contato humano. Isso tudo junto é o que nos dá conforto”, conclui Paula.