Prematuro extremo conquista direito de nascer

A foto da bebê Manuella, que nasceu no Monte Sinai com apenas 25 semanas de gestação, de parto normal, virou símbolo da UTI Neonatal. Após nascer com 770g, ela regrediu e chegou a pesar 530g aos 30 dias de vida. E foi quando teve a pior série de intercorrências no longo período passado na UTI. Ela sofreu três paradas cardiorrespiratórias e convulsões, voltando a ser entubada. “Ela é um milagre”, diz a mãe Fernanda Fernandes, emocionada ao contar tudo o que viveu neste período, mas cheia de expectativa pela alta da UTI. Ela saiu no dia 2 de março, após três meses e 10 dias na unidade Neonatal e exatamente na data limite do parto, se ele tivesse ocorrido no período ideal de uma gestação. Manuella teve ótimos resultados na análise da ressonância feita na manhã da alta e, após 48h em observação no quarto, sem incubadora, pôde ir para casa.

A neonatologista Sandra Tibiriçá reforça a constatação da literatura médica de que prematuros extremos (entre 24 e 30 semanas) têm se tornado cada vez mais frequentes, especialmente no Brasil. E grande parte dos casos acontece por trabalho de parto prematuro espontâneo. Casos como o de Fernanda, cuja gestação seguia tranquila e absolutamente normal até que, numa noite, aos cinco meses e meio de gravidez, sem motivo aparente, a bolsa rompeu e ela perdeu todo o líquido amniótico. “A primeira ideia que veio com a situação foi a da perda irremediável”, conta a mãe. Mas Manuella conquistou o direito de nascer.

Há bem pouco tempo, a Medicina passou a considerar viável um bebê com este peso ou idade gestacional. Em outra época seria mais um caso de aborto espontâneo. Porém, no Monte Sinai a rotina é a tentativa de reanimação do bebê e a mobilização de todos os recursos disponíveis na unidade de terapia intensiva para garantir a sobrevida com as melhores condições possíveis. Com excelentes resultados e histórias a cada novo caso como o de Manuella, a equipe vai ganhando cada vez mais experiência e muitos elogios.

“É a nossa segunda família”, conta a mãe

E Fernanda garante que não exagera. Depois de ver tantos bebês chegarem e partirem bem, por exatos cem dias, sem deixar de vir ao hospital em nenhum deles, “já somos íntimos de toda a equipe. Nos sentimos em casa”. O casal diz que não tem como traduzir em agradecimentos a acolhida carinhosa de todos. “Desde o rapaz do estacionamento, ao porteiro – afligindo-se por nós com alguma demora na liberação do horário de visita -, até a dedicação integral dos enfermeiros e médicos, só temos elogios a fazer”, reforça Fernanda. “É um carinho tão grande que, nos piores momentos, quando não havia o que dizer, tinham um abraço que dizia tudo”.

A guerreira Manuella é descrita pelo pai como “muito esperta” e prova isso contando mais de uma “atitude dela quando se via apertada”. Os pais relatam que “Manu”, de tão prematura, nasceu sem fendas nos olhos. Em determinado momento, a expectativa levou a mãe a dizer que autorizaria a incisão que poderia resolver o problema. “No dia seguinte ela abriu os olhinhos”, relata Anderson Salgado. De tanto se mexer, quando a equipe ainda decidia o melhor momento de tirá-la do tubo, ela mesma arrancou o equipamento no dia em que completou um mês de vida. “Ela é danadinha”, ri ele.

A criatividade virando símbolo de esperança

Laços enormes, como na última moda infantil, enfeites e até uma pequena rede – tudo o que era permitido, a mãe levava para a UTI para dar um tom de normalidade a uma rotina tão difícil para qualquer família. “Foi só com dois meses completos que a pegamos no colo pela primeira vez”, contam os pais. Mas, dia após dia (em cada um dos cem dias), variando as cores da esperança de levar a filha para a casa, Fernanda teve uma ideia inusitada que agradou tanto a equipe, que vai virar símbolo da UTI Neonatal e Pediátrica do Monte Sinai: os minúsculos pés de Manuella couberam num par de Havaianas – e não foi no menor número disponível, mas sim no chaveiro da marca, com pouco mais de 5cm. Na mão da enfermeira a proporção fica clara (veja foto). Em casa, o pequeno par de chinelos virou quadro, no Monte Sinai ficou a imagem, símbolo que comprova por que tanta dedicação vale a pena. Porque,  como provou Manuella, o que pode fazer toda a diferença é simplesmente o direito de nascer… e viver.