Radioembolização hepática com micro esferas radioativas de Ítrio-90 : os quatro casos de MG foram realizados no Monte Sinai
A radioembolização hepática com microsferas radioativas de Ítrio-90 é um procedimento realizado apenas em centros de excelência e de alta complexidade no Brasil. O Hospital Monte Sinai reúne equipe capacitada e multidisciplinar, aliada a um refinamento logístico hospitalar em todas as etapas que permitem sua execução, tendo, assim, realizado as primeiras quatro radioembolizações deste tipo já realizadas em Minas Gerais. E um quinto caso já está em avaliação.
O primeiro procedimento foi em 2018 e, como as demais, conduzido pela equipe de Radiologia Intervencionista formada pelos especialistas Rafael Gomide Alcántara e Magnum Mattos. Os procedimentos tiveram caráter paliativs, trazendo controle da doença e aumento da sobrevida. O procedimento, ao longo do tempo, vem tendo modificações na abordagem, tornando a técnica mais segura e eficaz. Hoje, ela é empregada em lesões hepáticas primárias e também metastáticas. “Apesar de não ser considerada cura, são observados em muitos casos a ausência de progressão da lesão após o tratarmos. Pode ser utilizada também de maneira pré-operatória com o objetivo de melhorar a condição do cirurgião para se obter um tratamento curativo”, explica Dr. Rafael.
Fato fundamental foi a evolução da Medicina Nuclear, em especial impulsionada pelo desenvolvimento de novos radiofármacos, que permitem o planejamento e execução de procedimentos complexos com finalidades diagnósticas e terapêuticas. A médica nuclear Maria Amélia Simões destaca que atualmente estamos na era da “teranóstica” – ou seja, diagnóstico e terapia com uso de radioisótopos.
São fundamentais ainda para o procedimento, a participação dos oncologista clínicos, cirurgiões oncológicos, patologistas e radiologistas, participando desde o diagnóstico, definição da indicação e melhor momento para o procedimento, até os cuidados na etapa pós-radioembolização.
Vale lembrar que o câncer de fígado é um dos seis que mais matam no país e, apesar de ter várias opções de tratamento quando descoberto em fase inicial, este não é o cenário encontrado por 30% a 40% dos pacientes deste tipo de tumor. A evolução das terapias é fundamental para conferir mais uma possibilidade quando a doença está em fase avançada, oferecendo mais recursos a quem poderia achar que não tinha mais opções.
Procedimento multidisciplinar
Dr. Rafael Gomide destaca que o mais interessante deste tratamento é que ele é eminentemente multidisciplinar. Na radioembolização com as microesferas de Itrio é necessário um sincronismo perfeito de profissionais, trabalhando afinados em cada etapa do processo. Precisa-se contar com a estrutura, equipamentos e recursos disponíveis, além da logística para receber e aplicar corretamente um material que é produzido nos Estados Unidos, com prazo curto para ser injetado (são usadas microesferas marcadas com Ítrio-90, isótopo emissor de radiaçãobeta com meia vida física de 64,2 horas). O radiofármaco exige controle rígido de compra, preparo, fracionamento e acondicionamento muito específicos. As doses são calculadas, encomendadas e preparadas para cada paciente, a depender de muitos fatores individuais, considerados em conjunto pelos especialistas. Variações como características físicas do paciente, tipo, número, tamanho e localização das lesões no fígado, além do mapeamento detalhado das artérias onde serão injetadas as microesferas. Tudo é absolutamente individualizado.
O radiologista intervencionista vai injetar, por via endovascular, o material radioativo exatamente na dose e local planejados. E após o procedimento, o exame PET-CT (tomografia por emissão de pósitrons) documentará o posicionamento deste material, pelas imagens obtidas com a radiação emitida pelas esferas marcadas com Itrio-90.
Dra. Maria Amélia pontua que na radioembolização o tratamento acontecerá dentro para fora, já que as microesferas de ítrio ficam no local do fígado onde foram injetadas, emitindo radiação exatamente onde precisam atuar, no tecido doente. Esta radiação de alta energia vai funcionar de forma precisa, poupando as áreas do fígado que estão livres de doença.
Este é o tipo de procedimento em que não bastam excelentes equipamentos e estrutura física, pois a equipe precisa ser multidisciplinar, especializada e afinada. Assim como não adianta ter as equipes preparadas, porém sem as condições estruturais e tecnológicas para execução do procedimento. O conjunto é que fará o procedimento ser possível e bem executado.
Etapas do procedimento
- Mapeamento vascular detalhado de toda a circulação hepática e tumoral para verificar possíveis comunicações vasculares com outros órgãos, dado o risco de migração das microesferas para locais indesejados.
- Logo após o procedimento é feita a cintilografia pulmonar e hepática para quantificar o shunt hépato-pulmonar e verificar se existe refluxo do fluxo arterial hepático para o estômago, intestino ou pâncreas.
- A equipe se reúne com todos os dados, para confirmar a indicação do procedimento ecalcular dosagem adequada a ser aplicadaem quais vasos hepáticos.
- Confirmada a indicação da radioembolização o procedimento é agendado e é solicitada a importação das microesferas de Ítrio-90 para a data programada – o que demanda logística bem afinada para que a dose não seja perdida.
- Na sala de hemodinâmica é feita a administração das microesferas diretamentena circulação arterial hepática por técnica transarterial percutânea.
- Durante e após o procedimento, a equipe de medicina nuclear prepara e fraciona as doses, confere as blindagens, a presença de radiação na sala, nos profissionais, nas roupas e em todo equipamento utilizado, para que não haja contaminação de outras áreas pelo material radioativo.
- O paciente volta ao PET-CT após o procedimento para avaliar a distribuição do material radioativo que foiinjetado. Documenta-se tudo e o paciente segue sendo acompanhado pelo oncologista clínico.
- Nova avaliação pode ser feita 2 a 3 meses após para conferir a evolução do paciente.
Texto publicado em 26/03/2022